A flor do Baobá
Ana Catarina Sant”Anna Maues
Numa cidade distante, em
certa época, ódio e vingança moviam os corações dos homens e mulheres. A intransigência fazia marcas profundas
naquele lugar. Viviam como se loucos fossem, sem juízo de valor ou acordos. A
vontade, o desejo unilateral, o eu quero eu faço, podiam ser vistos
corriqueiramente nas ações mais simples, culminando muitas vezes com o
irracional sangue escorrendo nas sarjetas junto a corpos inertes que entupiam
bueiros, sem qualquer comoção. Pais surravam filhos indefesos. Mães
desfaziam-se de nascituros. Assaltos toda hora, estupros, furtos, agressões das
mais variadas assolavam as relações.
Um ancião não aguentando
mais o viver daquelas pessoas, certa manhã dirigiu-se até o Baobá, único que
sobrara do feroz desmatamento da área. Árvore, espetacularmente, gigantesca com
altura que passava trinta metros. Os mais velhos contavam que aquele exemplar
já existia por ali a mais de mil anos por isso considerado pai de todas as
árvores. Seu formato estranho era explicado na conhecida lenda. Devido se
julgar melhor que os outros, Deus o castigou, replantando-o de cabeça para
baixo, com a copa enterrada e as raízes para cima, na intenção delas buscarem o
céu pedindo o perdão. Nessa intenção este morador sentou-se próximo ao tronco.
— Oh! Baobá. Junte minha oração a sua. Há mil anos pedes a Deus perdão
por teres sido vaidoso. Quantos anos devo pedir para os homens e mulheres da
minha cidade transformarem as atitudes, passando a viver na união que traz a paz?
Da árvore se escutou uma voz
que disse:
—
Venda pensamentos.
O ancião, intrigado, deixou o
lugar.
Alguns anos depois, voltou
cego, surdo, numa cadeira de rodas, pois os pensamentos vendidos que produziam
boas mudanças, incomodava poderosos, resultando cruentos castigos, mas não o
fizeram parar. Retornou ao pé da milenar
árvore em companhia de grande multidão. Todos imbuídos de nobres sentimentos,
vieram prestar homenagem e fazer orações a Deus, agradecendo a transformação
que tiveram. Hoje viviam tempos de grande felicidade. Aprenderam respeito,
gentileza, cordialidade, solicitude, civilidade. Em meio ao ato ouviu-se um
forte ruído. Um galho da árvore, começou a estufar, crescendo tanto, tanto, que
rachou fazendo desabrochar flor deslumbrante que surpreendeu a todos. Foi um “OOOOhhhh”,
geral. Falavam e gesticulam querendo contar ao mesmo tempo o acontecido ao
ancião. Este visivelmente emocionado
entendeu o presente recebido.
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