"Saber
viver, não é fácil"
Hirtis Lazarin
Thomas, filho único de empresário bem-sucedido, já
nasceu cheio de privilégios.
Cercado de mimos e dengos, nunca ouviu palavras
negativas e tão necessárias.
São elas que nos ensinam que na
vida nem tudo é possível e que ouviremos muitos ”nãos". E são esses "nãos" que nos darão forças para
continuarmos na luta que não privilegia ninguém.
O menino cresceu sem limites, nem restrições.
Aos dezesseis anos já conhecia quase todos os países, além do Atlântico.
Ia à faculdade para agradar e fazer um carinho à
mãe, que não se conformava com o filho "bom vivant". Sabia
o quanto errou em sua formação.
Thomas sabia que não precisava trabalhar,
pois na ausência dos pais, teria dinheiro suficiente para viver muito bem
pro resto da vida.
Mas a vida não é um caminho retilíneo e
previsível. Todo cuidado é pouco nas curvas que surgem inesperadamente.
Uma freada brusca pode provocar capotamento capaz de trazer estarrecimentos sem
solução.
E foi numa dessas curvas perigosas que Thomas, em
alta velocidade, não respeitou as placas de trânsito e não freou a tempo.
Sua vida virou de ponta cabeça.
Numa noitada carioca como outras tantas, conheceu
Helô, mulher exuberante, alguns anos mais velha.
Helô era culta, inteligente e divertida.
Conhecia a noite, a lua, as estrelas e os encantos que ela produz. Uma
companheirona.
Thomas apaixonou-se perdidamente por Helô.
Dizem que o amor cega. Thomas foi aconselhado. Não deu ouvidos aos
conselhos dos pais nem dos amigos. Não sabia ou fingia não saber que
sentimentos que brotam rápido demais podem morrer num piscar de olhos.
Ninguém o reconhecia mais. Era outro
homem. Contrariando a todos, mudaram-se pra Nova York.
Dinheiro não faltava.
Tudo perfeito...Um casal jovem em pleno vigor.
Thomas realizava todos os desejos, sonhos, fantasias
e loucuras da amada. Só para citar uma loucura, num mesmo dia, numa
única loja, comprou vinte pares de sapatos Prada pra Helô.
Já estavam juntos há pouco mais de um ano. A
vida que todos sonham.
Depois de uma noite bem dormida que costumava se
prolongar até às treze horas, Thomas acordou e sentiu a falta da mulher na
cama. Estranhou. Sempre foi difícil tira-la
debaixo dos lençóis.
Chamou-a várias vezes e nada... Percorreu
todos os aposentos do loft e nada também.
Acendeu as luzes. As portas do guarda-roupa
estavam escancaradas. As gavetas e cabides vazios. Algumas
peças perdidas no chão revelavam pressa. Sobre a mesa de jantar um
bilhete:
"Thomas,
nossa saga terminou.
Você é maravilhoso.
Sou aventureira.
Minha vida segue.
Adeus...
P.S. Levei todo dinheiro da nossa conta conjunta.
O homem rico, seguro, apaixonado desmoronou.
Acordou horas depois, quando o cachorrinho lambia-lhe a boca.
Perdido e só. Ali estava o homem fraco que não
aprendeu a ouvir não. Não sabia perder. Sem rumo, caminhou dias e
dias pela cidade sem dormir nem comer.
Anestesiado pelo álcool, andou quilômetros e mais
quilômetros de estrada até uma cidadezinha. Perambulando pelas ruas,
encontrou, num beco sem saída, um fusca abandonado.
Fez dele sua morada. O novo morador chegou
quietinho e assim ficou. Nunca atrapalhou ninguém. Pouco
falava. Magro, franzino, vivia de comida e roupas doadas.
O nome? De onde vinha? Nunca mais
se lembrou.
A solidão levou-o à bebida. A bebida ingerida
em excesso transformou-o num fantasma que vivia só porque ainda
respirava. Os dias passavam e ele perambulava pelas ruas.
À noite recolhia-se no seu cantinho.
O outono foi-se e o inverno despontou
rigoroso. O asfalto, as árvores, os telhados, o fusca, amanheceram
enfeitados de neve. Um vento frio e cortante assobiava aos ouvidos, as
nuvens embaçadas entristeceram o dia.
Thomas, encolhido no espaço reduzido do carro
enferrujado e frio, foi encontrado morto de mãos juntas.
Um pedido de socorro que jamais balbuciou.
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