INCERTEZA CRUEL.
Do Carmo
Aos trinta anos, ainda não sei quem sou. É muito estranho esse meu
sentimento de insegurança.
Sou o caçula de quatro filhos, o único homem da casa. Vivo com minha mãe
e três irmãs. Sempre convivi com mulheres.
Minha mãe trabalha como bibliotecária em uma escola de freiras, sai cedo
e volta ao anoitecer. Nós ficávamos com uma babá e a vovó. Mais duas mulheres.
Em casa, as brincadeiras eram sempre com meninas. Na rua não podia
brincar porque os moleques eram maiores. Restavam-me as meninas.
Hoje sou eu quem escolhe ou desenha as roupas das minhas mulheres, como chamo
as maninhas. Escolho complementos e acessórios. Sempre sou elogiado.
Bem no fundo do meu íntimo, sei que gostaria de jogar futebol, tênis,
assistir lutas de Box, mas como sempre a maioria ganha, eu minoria calada, fico
no “tudo bem”.
Sou o motorista, acompanhante, conselheiro, e mil títulos de serviçal às
ordens.
É só acenar, que lá vou eu.
Sou carinhoso, sentimental e muito sensível, gosto de servir minhas
mulheres e participar de suas vidas.
Será que sou gay?
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