Um bibelô de madeira
Jany
Patricio
Tenho
em minha estante um objeto de madeira, pintado com flores vermelhas e folhas e
um verniz dando acabamento. Guardo este bibelô em homenagem a uma mulher à
frente do seu tempo.
É uma singela recordação da minha vó. Uma
pessoa amorosa, como todas as avós. Brincalhona e sorridente.
Em momentos da sua vida, ela precisou
romper com tudo. Deixou os quatorze filhos crescidos e marido para ir para a
Europa. Não um outro continente. O jardim Europa, na Vila Mariana que na época era formado por chácaras, onde havia muito
verde. Diferente dos dias de hoje que tem estação de Metrô, prédios, lojas,
residências e muito asfalto.
Imagino que sua vida não foi fácil.
Porém só me recordo dela com um sorriso no rosto, contando muitas histórias e
amada por todos, apesar da sua rebeldia, para a época.
Depois de viver alguns anos em São
Paulo, ela voltou para Paulo Afonso. Sua casa, próxima a rua principal do
centro, era aconchegante e aberta para os amigos, parentes, filhos e netos, que passavam por lá todos os dias para
almoçar, tomar um café ou simplesmente para lhe dar um bom dia e um beijo.
Lembro-me dela sentada em sua cadeira de
balanço, cercada de gente, rindo muito com alguns dos filhos piadistas.
Certa vez em que estive em Paulo Afonso,
ela me deu uma xícara e pires de porcelana, que infelizmente quebraram e este
bibelô que guardo com carinho. Quando olho para ele, me recordo dos momentos
alegres que passei em companhia dela, da sua história, da sua leveza e da sua
fibra.
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