PRIMAVERA
AO ENTARDECER!
Dinah Ribeiro de Amorim
Sentada num banco de jardim que frequentava
todas as tardes, ouvia o barulho da criançada e o bate papo de suas mamães.
Distraia assim a sua vida mansa, ausente de
trabalho e novidades.
Vivia sozinha, seus filhos adultos, casados,
morando longe, mal apareciam para uma visita.
Era uma senhora alegre apesar de só e
espantava facilmente tristezas quando observava outras vidas, mais moças do que
ela.
Lembrava-se então do seu passado e de como
fora feliz também.
Numa dessas tardes, quando a brisa de folhas
terminou, brotando as primeiras flores nas árvores, prenúncio de primavera,
aproximou-se dela um senhor idoso, portando
bengala, que há muito a observava. Pediu licença e se sentou. Não falava nada,
só queria ficar ao lado dela.
Não se incomodou com isso, deixando-o
sentar-se todas as tardes ao seu lado, embora não conversassem.
Com o tempo, acostumou-se com ele. Chegava
primeiro ao parque, sentava-se, examinava aquele lugar bonito, alegre,
perfumado, primavera no ar, e, logo depois, ele chegava. Mancando levemente,
pedindo licença, sentava-se ao seu lado. Continuava sem falar nada, olhando
simplesmente o mesmo que ela.
Houve uma tarde em que ele não apareceu.
Preocupada, procurou-o com o olhar, mas não o achou. Pensou em perguntar a
alguém, mas não sabia nada dele! Andou um pouco pelos arredores e encontrou um
vendedor ambulante, cujo ponto era ali. Perguntou-lhe sobre o senhor de
bengala, que vinha todas as tardes, e ele prontamente respondeu: “Seu Ailton,
aquele que vem sempre? Mora ali na esquina. Enviuvou há dois anos e nunca mais
conversou com ninguém. Vai ver que adoeceu!”
Ansiosa, vai até a esquina para saber dele.
Achou sua casa através de uma vizinha e tocou a campainha. Notou que a porta
estava aberta. Como ninguém respondesse, entrou e subiu as escadas velhas. A
poeira e o cheiro de mofo tomavam conta do lugar. Algumas plantas, na entrada,
pediam água há muito tempo, mas teimavam em viver!
Foi subindo, curiosa, abrindo janelas,
observando lugares, chamando Sr. Ailton em voz alta.
Encontrou-o deitado num quarto, estava sonolento,
meio delirante de febre, aparentando forte gripe. Não a reconheceu, olhando-a
com curiosidade, chamando-a, às vezes, de Elisa.
Quem seria Elisa! Com certeza a esposa
falecida.
Cuidou
dele, chamou um farmacêutico local, deu-lhe os remédios receitados e ia todas
as tardes vê-lo, ao invés de ir ao parque.
Sr. Ailton, aos poucos, foi melhorando. Sua
aparência ficou mais sadia, faces coradas, mais risonho e forte. Alegrava-se ao
ver quando Esperança aparecia, sempre trazendo um caldo quente ou uma carninha
bem temperada. Até a casa estava diferente, mais limpa, cheirosa, alegre,
ensolarada, com algumas flores trazidas pela estação que chegava.
Pois é, Primavera no tempo e na alma daqueles
idosos que se encontravam no entardecer da vida, mas, ainda com sentimento de
amor, carinho, amizade, sonho!
Esperança entrou na vida do Sr. Ailton e ele
na dela também!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI UMA MENSAGEM PARA O AUTOR DESTE TEXTO - NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO. O AUTOR AGRADECE.