PÉS RACHADOS BROTANDO
SANGUE!
Dinah Ribeiro de Amorim
Os pés de Mirela,
calejados pela vida embora fosse muito jovem, já tinham rachaduras e, por
algumas, brotava sangue! Há tempos que não viam sapatos, quando muito, chinelas
de borracha conseguidas em botecos próximos, quando o dinheiro dava.
A caminhada iniciada,
desta vez, seria longa e, desde que saíram de casa em busca de outras paragens,
não haviam feito um pouso, nesse caminho sem destino e fim.
Chicão, o líder do
grupo, não cedia! Acostumado a essa vida errante, sem ponto fixo, procurando
condições mais favoráveis de vida para todos, só permitiria um descanso lá pela
tardinha, quando escurecia.
Tomariam então, o
pouco d’água que restava, bebendo um gole cada um. Abririam a sacola de comida
escassa, que seria repartida igualmente: nacos de pão amanhecido, pedaços de
rapadura, restos de toucinho defumado que sobraram da última compra feita no
antigo empório do Seu Januário, preparariam espaço para dormida com os trapos
que trouxeram, escolhendo uma sombra que a mata oferecia.
Era essa a vida que
levavam, andando sempre à busca de novos lugares, semelhantes a ciganos ou
índios atrás de novas terras para plantio, água para viver, alimento para
comer. Quando a região encontrada se esgotava, saíam procurando outra para se
instalar.
Desde que se conhecia
por gente, Mirela crescera assim,
fugindo dos lugares secos e achando água no fim.
Pés rachados,
brotando sangue, acostumaram-se enfim!
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