Uma Incrível Aventura
Adelaide
Dittmers
Catania
é uma bonita e antiga cidade da Sicília, estendida aos pés do Monte Etna, que
expele suas chamas de maneira constante, o que a faz receber turistas do mundo
inteiro atraídos pelo fascínio de ver de perto um vulcão em atividade.
No
aeroporto movimentado, dois jovens brasileiros, com mochilas nas costas,
caminham pelos extensos corredores, conversando animados. Vão realizar um sonho há muito acalentado:
chegar quase às bordas da grande cratera do Etna, para assistir ao belo
espetáculo do fogo, que salta das entranhas da montanha.
Saem,
brincando e provocando-se mutuamente, de quem seria o mais corajoso ao escalar
a montanha. Tinham contratado uma
excursão para fazerem esse passeio com segurança. Lá fora, chamam um táxi para
levá-los até ao centro da cidade, mas antes admiram a imponente montanha que
parece dominar tudo a sua volta.
No
percurso, os olhos curiosos passeiam pelo lugar, através das janelas do
carro. A beleza da antiga arquitetura
dos prédios e casas provocam comentários entusiasmados dos rapazes.
Ao
alcançar a Piazza del Duomo, descem do táxi para continuar a pé até o hostel,
onde se hospedarão. Param para fotografar a diferente Fontana dell’Elefante,
que exibe a estátua do animal, esculpida com as cinzas do vulcão.
A
longa viagem aérea não reflete nenhum cansaço no rosto dos dois. Ao contrário, Matheus e Thiago vibram a cada
descoberta pelo caminho, mas a emoção maior é a visão do majestoso Etna,
reinando sobre a cidade, como um grande senhor sobre os seus súditos.
Chegam
ao lugar da hospedagem, tomam um banho e saem para conhecer melhor a cidade.
Percorrem vários pontos turísticos.
Deliciam-se com a boa comida italiana.
Paqueram as bonitas jovens que passam por eles e ao fim do dia voltam
para descansar e enfrentar no dia seguinte a subida até a cratera daquele
senhor irritado, que despeja sua raiva pelos ares.
Aquele
28 de fevereiro amanhece frio. Os dois
jovens despertam ansiosos, empolgados pela viagem que os levará ao topo da
intempestiva montanha. Rindo e brincando, engolem rapidamente o café e comem o
pão pelo caminho.
Às
oito horas em ponto, pegam o ônibus, que os levará na primeira metade da
viagem, até ao teleférico. O guia avisa a todos, que está sendo esperada uma
forte erupção para aquele dia e que não poderão chegar perto da grande
cratera. As trilhas de acesso estão
proibidas. Por segurança o passeio será
mais curto.
Matheus
e Thiago se entreolham. Uma comunicação
silenciosa é feita entre eles. Afinal, o
objetivo de terem vindo era apreciar uma erupção de perto.
Uma
hora depois, já no teleférico, se maravilham com a bela vista da cidade, mas o
fogo, que sobe para o céu do pico da montanha, atrai os seus olhares como um
poderoso imã.
Chegam
à altura permitida e são novamente avisados para não se distanciarem do
guia. Os dois seguem o grupo pelos
arredores. Em certo ponto do caminho, Thiago aponta com discrição uma trilha,
em que há uma tabuleta, que indica o acesso à grande cratera. Os dois diminuem
os passos e, sem serem vistos, entram na trilha.
A
escalada é feita em silêncio para não serem percebidos. Apenas o som da
respiração forçada pela forte subida é ouvido.
Um leve tremor os desequilibra e eles riem divertidos. A excitação apaga
o perigo iminente a que estão expostos. Os olhares não se desviam do belo e
tenebroso espetáculo das barulhentas explosões, que levam as chamas para as
alturas.
Subitamente,
uma explosão violenta sacode a montanha, um grande e intenso fogaréu é expelido
e pedras voam pelos ares. Os rapazes são atirados ao chão. Atordoados, levantam-se devagar e
assustados. Matheus quase não consegue firmar o pé. Uma dor lancinante o faz gemer. Agora, ao invés de risadas, uma máscara de
terror cobre os rostos deles. Não conseguem descer rápido, o tombo não só machucou
Matheus, como feriu a região das costelas de Thiago, que procura não se queixar
para não assustar mais o amigo. A trilha íngreme é salpicada de pequenas e
grandes pedras, em que tropeçam e quase caem, aumentando a dor dos
ferimentos.
A
cada explosão, a montanha estremece e os desequilibra, e num desses momentos
uma pequena estaca ao lado do caminho se enrosca nas roupas deles, rasgando-as.
Uma
nuvem espessa de fumaça negra os atinge.
Os dois começam a tossir e cobrem o nariz e a boca com os panos rasgados
das camisetas na tentativa de não sufocarem.
Os olhos começam a lacrimejar, atrapalhando a visão de ambos. Sentindo que a vida está por um fio,
esforçam-se em quase correr, apesar da dor que estão sentindo.
Matheus
cai de novo e quer desistir. Thiago o
puxa com a força que lhe resta e o ampara, animando-o a continuar.
Enfim,
conseguem chegar ao final da trilha, exaustos se arrastam até o teleférico, que
está parado. Não há mais ninguém lá.
Consternados eles colocam as mãos na cabeça e abrem os braços em um movimento
de impotência. Thiago, então, lembra do
celular e o procura no bolso, mas não o encontra. Perdeu-o no caminho. Matheus
abre a pochete, que milagrosamente, estava ainda presa na sua cintura e retira
o dele. As mãos trêmulas mal conseguem digitar o número para pedir socorro. A
atenção está presa no gigante, que cospe o seu poderoso fogo interno.
Enfraquecidos, seguram-se mutuamente.
Depois
de alguns minutos, que lhes pareceu uma eternidade, o teleférico começou a se
mover. Os jovens se jogam nas cadeiras, que os levarão para longe daquele
inferno. Quando chegam embaixo, um grupo de homens os esperam e os amparando,
levam-nos até um carro de bombeiros, que acabou de chegar. Com a sirene ligada, o carro desce veloz o
resto da montanha. No trajeto até o hospital, colocam neles máscaras de
oxigênio para limpar os pulmões dos perigosos gases inalados. Matheus perde os
sentidos, mas é prontamente atendido.
No
hospital, são examinados. Matheus tem um
rompimento em um tendão do joelho e Thiago, duas costelas quebradas e, pelo
corpo, ambos sofreram várias escoriações. Mas os médicos os felicitam por
estarem vivos.
Dias
depois os ousados rapazes se despedem da bela cidade. Matheus equilibra-se nas
duas muletas pelo aeroporto. Thiago
empurra um carrinho com as duas mochilas.
Às vezes uma careta mostra a dor que sente pela fratura das
costelas. Parecem soldados, que voltam de
uma guerra. Afinal, quiseram desafiar o
gigante.
Ao
sobrevoarem a cidade, olham pela janela do avião o majestoso Etna, que agora,
mais calmo, ilumina o céu noturno.
Entreolham-se sorrindo e fazem uma continência respeitosa ao velho
vulcão.
A
incrível e perigosa aventura está ficando para trás, mas jamais a esquecerão.
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