O HOMEM MASCARADO
Um exercício de “Começar como terminou
e terminar como começou”
Leon Alfonsin Vagliengo
O Homem
Mascarado que abriu a porta e adentrou à sala, demonstrava que ninguém o
impediria de realizar seu intento, e sabia muito bem o que iria fazer.
Sabia
muito bem o que iria fazer, confiava nos comparsas que escalou para auxiliá-lo
na realização daquela missão, que já estavam naquela sala, todos também
mascarados.
Todos
também mascarados, inclusive aquela senhora morena, que não era sua comparsa e passivamente
estava sendo o alvo das ações do grupo.
Alvo
das ações do grupo, sim, mas ela não demonstrava pavor nem medo; ao contrário,
ainda que no íntimo estivesse com algum receio, embora indefesa e obrigada à
obediência naquela circunstância, isso evidentemente não lhe toldava a coragem.
A
coragem, naquele momento de expectativa, era notoriamente a sua marca
registrada. Qualquer um perceberia que ela não era alguém de curvar-se a
qualquer ameaça. E a expressão dessa coragem estava estampada em seu rosto, que,
apesar de tudo o que acontecia a sua volta, demonstrava absoluta autoconfiança.
Autoconfiança,
porém, que claramente também não faltava ao Homem Mascarado, em vista da determinação
e segurança de suas atitudes, assim como também sobejava a seus comparsas, que
sabiam muito bem o que deveriam fazer.
Sabiam
muito bem o que deveriam fazer, e prepararam cuidadosamente aquela senhora, que
se manteve inabalável em todo o processo, mesmo antevendo que iria passar por
momentos cruciais.
Momentos
cruciais que certamente estariam sob o comando daquele primeiro Homem Mascarado;
e ele, ao perceber que tudo já estava como fora planejado, logo atacou um olho da
corajosa senhora até conseguir extrair-lhe, em pedaços, todo o cristalino.
O
cristalino se foi, mas o Homem Mascarado ainda não estava satisfeito. Então,
para completar aquela ação violenta, cuidadosamente colocou e ajustou uma lente
artificial no mesmo lugar em que estava o material humano original que ele
havia retirado.
O
material humano original que ele havia retirado do olho da corajosa senhora
morena, foi, portanto, impiedosamente substituído pelo Homem Mascarado por uma
lente artificial.
Uma
lente artificial que proporcionaria melhor visão, uma visão mais clara para
ela, que é professora; e ele lhe disse uma coisa que ela poderia constatar
quando olhasse para uma parede branca com um olho só, fechando o outro:
primeiro, só com o olho da lente, veria a parede bem branca; depois, só com o
outro, enquanto ainda estivesse com catarata, veria, a mesma parede, com uma
cor meio amarelada.
Cor
meio amarelada, naquele instante, talvez numa fuga psicológica, fez lembrar à
professora, sem qualquer conexão com a realidade por que passava, algumas
escritas de seus alunos quando se acovardam ao desenvolver o texto e
medrosamente justificam cada argumento extravagante sobre peripécias das
personagens, simplesmente como se fosse um sonho.
Como se fosse um sonho, também,
aquela corajosa e autoconfiante senhora morena, professora muito querida por
seus alunos de escrita literária, voltou a enxergar com aquele olho operado com
a mesma clareza e nitidez de antigamente e, em vista desse ótimo resultado,
agora, já pensava em programar o ataque ao cristalino do outro olho; e o
responsável por essa ação maravilhosa teria que ser, novamente, O Homem
Mascarado.
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