O
PODEROSO CORONEL RAMIRO
Henrique Schnaider
Josué chegou naquela cidadezinha, no interior do Estado
da Paraíba, de nome Cedró e não imaginava que, não era diferente o modo de vida
dos pacatos cidadãos do lugarejo, aos da cidade grande. Desceu do ônibus na
pequena estação rodoviária que mais parecia um ponto de ônibus de uma cidade maior.
Cedró toda tinha dois serviços de táxi, um que vinha
e outro que ia, mas assim mesmo faltavam clientes para os taxistas. As pessoas
andavam a pé. Josué pegou o táxi que ia, cumprimentou o motorista e perguntou
onde poderia achar uma casinha para alugar. O taxista que depois se tornou
amigo de Josué, respondeu que ia levá-lo lá onde havia casas para alugar.
Josué viu casa do seu gosto. Alugou a casinha. Ela
mais parecia uma toca, mas servia para ele. Não havia exigências, era só pegar
a chave, entrar e pagar o aluguel dali trinta dias. O taxista indicou também a
Usina de Açúcar São João, onde ele poderia arrumar um emprego.
No dia seguinte Josué pegou o táxi que vinha,
dirigido pelo Armando com quem simpatizou logo. Pediu para ser levado para a
Usina de açúcar. No caminho foram conversando e o motorista falou sobre o
Coronel Ramiro, dono da Usina e a pessoa mais importante da cidade.
Chegando na Usina, Josué se despediu do Armando e se
dirigiu ao escritório, pensando que iria conhecer o tão falado Coronel. Mas
não, nem sinal dele. Passou por uma entrevista básica e logo foi admitido como
auxiliar de escritório. No dia seguinte no trabalho, só ouvia os colegas falando
sobre o poderoso Coronel. Falavam de tudo, sobre
os três filhos do Ramiro e sobre a esposa tão bela e formosa.
Passado um mês, Josué já na sua rotina, ia depois do
trabalho para relaxar um pouco, antes de se recolher em casa, lá no bar do
Cabeção, outra vez ouvia a ladainha, tudo sobre o Coronel. Ele percebeu que as
futricas eram muitas, mas na verdade, eram poucas as pessoas que haviam visto
ou sequer conversado com o poderoso senhor.
Festas aconteciam constantemente na casa do patrão, o
dono da cidade de Cedró. Poucas pessoas do local, escolhidas a dedo
frequentavam tais festas. O Prefeito cupincha de Ramiro, o Presidente da Câmara
dedo mole e o dono das três lojas no centro da cidade,. Outros convidados, eram
todos vindos de fora, de outras cidades importantes e que mantinham relações
políticas com o Coronel.
Josué ficava de boca aberta com tamanho poder e
influência do seu patrão, mas que não aparecia nunca. Estava sempre, ou
viajando ou permanecia dentro de sua casa com um luxo invejável. Piscinas,
imensos salões para as recepções e sem deixar de mencionar um belíssimo salão
de jogos.
Todas estas histórias sobre a casa do Coronel, eram contadas
pelas poucas pessoas que lá estiveram, mas que não chegaram a ver o dono da
casa. Alguns tiveram o privilégio de ver Dona Olga a formosa esposa, que era
quem dava as ordens na mansão.
Certo dia, Josué se considerou um sortudo, já que
seu chefe lhe chamou ao gabinete e o incumbiu de levar um pacote que ele
considerou como misterioso. Era todo embrulhado num papel finíssimo e muito bem
amarrado.
Lá se foi Josué caminhando pela estrada em direção
ao palácio do Coronel. Ficou imaginando, devido a importância do seu patrão,
que o mesmo, deveria ser um homem alto, forte e muito charmoso. Emocionado,
caminhou a passos largos, ansioso por chegar, e finalmente poder ver a tão
importante e misteriosa figura.
Na porta da casa, tocou a campainha e com o coração aos
pulos, aguardou emocionado para ver o patrão. Finalmente alguém abriu a porta e
um senhor baixinho com um metro e meio, com um chapelão. Na opinião de Josué o
homem era muito feio. Gaguejando ele falou.
— Boa tarde, gostaria de entregar este pacote ao
Coronel Ramiro.
— O senhor respondeu, sim sou eu, pode me entregar.
Josué capengando se dirigiu ao Coronel. Este por sua vez disse um até logo baixinho,
virou as costas, entrou e fechou a porta.
Josué não cabia em si de tanta decepção com o
poderoso chefão. Ficou ali parado, pensando no homem que acabara de conhecer.
Saiu andando trôpego pela estrada de volta para a Usina. Pondo os pensamentos
no lugar. Por fim chegou à conclusão de que, depois de ter visto o patrão, viu
que aparência não é tudo, mas sim o poder e a fortuna se adquirem com muitas outras
qualidades.
Uma boa reflexão sobre a nossa imaginação e interpretação das coisas que ainda não conhecemos.
ResponderExcluirUma interessante narrativa em que foi sendo criada a figura imaginada de um personagem desconhecido, baseada em premissas falsas, para chegar à revelação final com a constatação decepcionante da realidade.
ResponderExcluir