Serei
eu o herói da minha própria história ou qualquer outro tomará esse lugar?
Helio Fernando Salema
Fui entrando. Caminhando lentamente, talvez por cansaço
ou o peso dos fracassos daquela noite. Ao ouvir o som da música, a cada passo,
mais nítida aos meus ouvidos, acelerava meu coração e meus passos.
Ao aproximar da pista de dança, onde poucos casais
usufruíam daquela maravilhosa melodia, meus olhos fitaram os de uma morena que ao
perceber que nossos olhos se cruzaram, desviou o olhar para os casais que
dançavam. Imediatamente comecei a observar cada detalhe. Tínhamos a mesma
altura, cabelos longos cacheados e muito séria.
Quando um conhecido meu aproximou-se dela e a convidou para
dançar, ela nem olhou pra ele, de braços cruzados, apenas balançou a cabeça.
Por alguns minutos continuou de olhar fixo naqueles que dançavam. Um outro
rapaz chegou à frente dela, esticou o
braço num gesto de cavalheiro solicitando a honra de uma dança, e novamente ela
só balançou a cabeça.
Uma outra música começou a tocar e me vieram recordações.
Mais difícil ficou para eu ousar dançar com aquela que tanto me impressionou. O
medo do fracasso afastou a esperança de qualquer êxito. Noite perdida, pensei.
Rapidamente pela minha cabeça
se passaram os transtornos vividos no dia.
Tudo, naquele momento, pesava na minha decisão, tentava
ou não dançar com aquela morena. Parece que o conjunto quis me ajudar e começou
a tocar uma música que sempre me trouxe boas recordações. Pensei, serei eu o
herói ou qualquer outro será?
Fui caminhando lentamente na direção dela sem que ela
percebesse. Parece que ela se assustou quando me viu à sua frente. Lembro que
estiquei a mão e talvez eu tenha dito alguma coisa. Ela veio junto a mim e
começamos a dançar.
Foi um momento mágico. Dançava maravilhosamente,
flutuávamos pelo salão quase vazio.
Tudo era divino, suas mãos, seu perfume. Eu não sabia o
que falar. Lembrei do que algumas amigas tinham dito. Que minha barba dava uma
sensação agradável ao tocar o rosto delas.
Então arrisquei.
- Minha barba incomoda você?
Um não suave ouvi. Percebi que ela sorria.
Ufa, que alívio.
Em seguida o conjunto para de tocar.
Tive coragem de dizer:
Que pena. Vamos depois continuar?
- Sim. Agora bem nítido e me fitando e sorrindo.
Não sei como é nem porque, completei.
- Quando a música começar você me tira para dançar?
Olhou me muito espantada e sorrindo foi em direção as
suas colegas.
Assim que chegou junto as amigas vi que todas começaram a
rir.
Vi um casal de amigos sentados e fui juntar-me a eles. Conversamos
até que o conjunto voltou a tocar e eles saíram para dançar.
Vi que ela estava com as amigas e fui até lá, agora sem
nenhuma preocupação.
Dançamos até o final.
Nosso relacionamento durou alguns meses, nossa amizade
até hoje.
Recentemente a encontrei na rua e ela veio toda
sorridente e me disse que estava muito contente. Nasceu o seu segundo neto.
Conversamos por um longo tempo sobre a vida.
Ao despedir ela rindo me disse que todas as vezes que me vê,
lembra:
Quando a música começar você me tira para dançar?
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