Antes dos dezoito...
Henrique
Schnaider
Do
que me lembro, o riso vinha fácil, nem precisava haver piada, tudo parecia tão
engraçado tão alegre, as futilidades eram uma alegria, as seriedades, um
prazer. E nem tinha dezoito ainda...
Lembro
como se fosse hoje e ainda saboreio estas doces lembranças de quando meu pai de
volta de uma viagem aos Estados Unidos onde foi visitar seus três irmãos que
não via há mais de trinta anos, fomos ao porto de Santos para recebê-lo. Quanta
emoção! Aquele navio ancorado, e lá estava meu pai na murada acenando para nós,
me senti tão pequenininho feito uma formiga perto daquela embarcação gigantesca.
As lágrimas rolaram, e nem tinha dezoito anos ainda...
Chegados
de Santos em nossa casa, quanta alegria, eu me derretia todo olhando para o meu
querido pai, ansioso para ver todas as coisas que trouxe de sua longa viagem.
Tinha presentes de todos os tipos para mim e para meus irmãos, roupas,
brinquedos que nem sonhava existir, carrinhos de dar corda, jogos, uma radio-vitrola
de móvel acoplada com TV. Comidas as mais variadas possíveis, muitos enlatados
completamente desconhecidos para mim. E nem tinha dezoito anos ainda...
Para
minha mãe veio uma geladeira de duas portas, coisa de cinema, estávamos todos
embasbacados. O ambiente era de pura emoção. Meus amigos todos curiosos queriam
ver as coisas que meu pai trouxe e me pediam para entrar e poder contemplar
todas aquelas coisas que lhes causavam curiosidade, eu todo orgulhoso, e nem
tinha dezoito anos ainda...
Naquela
época, meu pai vendeu muitas coisas que trouxera para fazer negócios, e
arrecadou um bom dinheiro com o qual abriu, juntamente com meu tio, sua primeira loja de móveis. Nossa vida subiu
de nível, e emocionado como um pássaro que dá o seu primeiro voo eu ganhei
minha primeira bicicleta. Foi delicioso sair para a rua e dar a minha primeira
volta no quarteirão, e eu nem tinha
dezoito anos ainda...
Depois
de um tempo, meu pai abriu uma segunda loja para ser dirigida por meus irmãos,
enquanto isso eu deitava e rolava com a minha querida bicicleta, rodando por
todo o bairro onde morávamos, e eu nem
tinha dezoito anos ainda...
Como
não há bem que sempre dure e nem mal que nunca acabe, terminou minha alegria,
já que meus irmãos me convocaram para ajuda-los
na nova loja, e lá fui. Era uma
vida nova, dura, pois tinha que ajudar a carregar os móveis pesadíssimos, de
madeira maciça. E, eu não tinha nem dezoito anos
ainda...
Tinha
o outro lado moeda, foi quando meus irmãos me ensinaram a dirigir. Para mim foi mais gostoso do que pedalar. Eu dava um salto maior na minha vida, largando
a minha querida bicicleta e passando a dirigir uma caminhonete, sentindo-me todo orgulhoso. Eu nem tinha
dezoito anos ainda...
No
fim das contas, passei a dirigir a loja, já que os meus irmãos seguiram novos
caminhos. Um deles foi embora para um novo país começar uma nova vida, o outro
foi abrir uma nova loja. E eu lá fiquei
tendo que tornar-me maduro, precocemente. E eu nem tinha dezoito anos ainda...
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