Uma
pessoa do mal
Henrique Schnaider
Hildebrando nasceu como algumas crianças
nordestinas em uma família abastada, filho de um Coronel, destes que, mandar
matar era quase como um habito diário. O menino cresceu observando todas as maldades
que o pai cometia, inclusive a forma como tratava seus empregados, verdadeiros
escravos.
Certo dia Brando estava cavalgando, e mesmo
sentindo a respiração apressada do animal, não estava satisfeito, e já
demonstrando o que aprendera com o velho Coronel, rolava as esporas de sua bota na barriga da
égua que toda ligeirinha relinchava e não gostava daquela situação
desagradável.
De repente Brando ouve barulho na mata e
gritos desesperados. Freou o cavalo e cheio de curiosidade aproximou-se vagarosamente,
procurando não fazer barulho para não chamar atenção. Sentiu um frio na barriga,
pressentindo o que iria presenciar. O suor escorria pelo seu rosto e costas, tal
a ansiedade de decifrar os gritos horrorizados que ouvia. De repente deu de
cara com o capataz Tibúrcio que usava um motosserra para esquartejar vivo Antônio
de Jesus vizinho da fazenda, que teria se recusado a vender o pequeno sitio
onde tinha uma plantação de mandioca, para seu pai que pretendia aumentar a
propriedade.
Estranhamente, o rapaz não sentiu pena do
pobre Antônio que estrebuchava dando os últimos suspiros antes da morte, pelo
contrario, sentiu certo prazer sádico ao presenciar aquela cena pavorosa. O
sangue, os gritos, a morte com a motosserra, tudo lhe dava prazer. Uma
indecifrável alegria o dominou. Teve uma vontade incontrolável de algum dia cometer
essa mesma barbaridade com suas próprias mãos. Brando olhava para Tibúrcio que
sorria não demonstrando o menor arrependimento da barbárie que acabara de cometer, aliás, possuía o olhar frio de um assassino sanguinário.
Hildebrando Paschoal tornou-se um adulto inescrupuloso
como era de esperar. E, por desejo de seu pai, entrou na politica e não demorou
muito tempo para que realizasse seu desejo íntimo e há tanto tempo acalentado.
A política de Cabrobó dos Montes era
dominada por duas famílias, Oliveira e os Paschoal sendo
que ao longo de tantos anos os assassinatos ocorriam entre as duas famílias.
Brando candidatou-se a Prefeito nas
eleições daquele ano, tendo como concorrente
João Oliveira, o que demonstrava que agora as duas famílias mais ricas do lugar
não disputariam apenas propriedades e dinheiro, mas também poder político.
A disputa estava extremante acirrada, cada vez mais inimizando Paschoal e Oliveira.
Na cabeça de Brando começou a se repetira ideia alimentada desde garoto, pois
matar alguém com a motosserra era ainda seu maior desejo. Começou a traçar um
plano que julgava infalível, tratava-se
de uma tocaia para esquartejar seu concorrente João Oliveira. Naquela semana
nenhum outro assunto o tocava, nada lhe atraía mais que planejar sua realização.
Até que chegou o dia em que tudo poderia dar certo. Pegou o velho motosserra. de seu pai, lubrificou-a enquanto matutava e
sorria. Depois seguiu para o ponto de encontro, e pôs-se aguardando escondido na estrada vazia,
onde sabia que seu inimigo passaria.
João surgiu na curva empoeirada, estava
sozinho, como sempre fazia. Tinha na cabeça as eleições que estavam por alguns
dias. Tinha como certa sua vitória, pensava enquanto abria um sorriso plano. Vinha
montado num trote lento completamente distraído sem ver nada a sua volta. Nem
percebeu o inimigo por perto. Brando aproveitando-se da absorção de Oliveira, rendeu-o obrigando-o a ir para a mata fechada, lugar
que bem conhecia desde quando assistiu o serviço de Tibúrcio, e lá sob o
silêncio das copas, praticou o bárbaro crime matando seu concorrente com a motosserra,
tendo assim realizado o maléfico sonho de muitos anos.
Sem ninguém para opor a ele, Hildebrando
Paschoal ganhou a eleição daquele ano, e
exerceu sua gestão a ferro e fogo eliminando todos os inimigos que se interpunham
no caminho.
Sua carreira foi meteórica e logo foi
eleito Deputado Federal, cargo em que se deu muito bem, já que o ambiente no
Congresso Nacional é propício para todo tipo de politico.
Chegou facilmente a Presidência da Câmara e
cometeu todos os tipos de barbaridades que se possa imaginar para chegar onde
queria: intimidou parlamentares e empresários,
corrompeu, chantageou, e assassinou.
Mas Brando não contava com inimigos no
Congresso, tão ou mais criminosos que ele. E, finalmente, fez-se a Justiça
ainda que por vias tortas, Hildebrando Paschoal foi desmascarado, cassado,
preso julgado e condenado.
Atualmente depois de longos quinze anos de prisão,
conseguiu direito a prisão domiciliar e passa seus últimos dias de vida em casa
sofrendo de um câncer incurável.
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