"Navegar
é preciso"
Hirtis Lazarin
Na biblioteca pessoal de Olivier dá pra contar os livros que não se referem ao
"Mar, seus segredos e mistérios".
Essa paixão nasceu cedo, aos cinco anos de idade. Foi quando passou
férias, pela primeira vez, em praias do Oceano Pacífico.
A imensidão azul sem fim, o embalo ritmado das ondas volumosas quebradas contra os rochedos que, valentemente,
impediam que ultrapassassem seus limites, a brisa leve
que despenteava os cabelos, o vento forte que revirava e arrastava os
guarda-sóis na areia molhada, nada escapava aos seus olhos
curiosos. E o cheiro...Ah! Aquele cheiro fresco e salgado
impregnou-se pra sempre naquela cabecinha de cabelos cacheados.
Aos sete anos, alfabetizado, o menino já sabia escolher os livros que
gostava de ler. Sua biblioteca crescia e as miniaturas de navios,
barcos, veleiros, jangadas também.
Estudou Oceanografia na Grã-Bretanha, a melhor escola da
Europa. Seu passatempo preferido era mergulhar em águas
profundas. Ali encontrou o paraíso. Paisagens intocáveis
abrigando animais de todas as formas, tamanhos e cores, vivendo em plena
harmonia. Além do prazer, adquiria mais conhecimentos
que complementavam seus estudos.
Convenhamos, Olivier era firme e decidido, traçou objetivos
e corria atrás deles.
Depois de formado, comprou um veleiro, idealizado todos os dias de
sua vida. Depositou nele fantasias e muita
esperança. Esperança de não só enfrentar, mas desvendar segredos
e mistérios do mar. O óbvio não lhe interessava.
O rapaz organizou uma pequena expedição. Juntou um colega
de estudo, mais três homens fortes e entendidos de mar. Cinco
homens a bordo.
O primeiro desafio já estava traçado. Navegariam até Sandy
Island, a "Ilha Fantasma", localizada entre Austrália e Nova
Caledônia. Aparecia em mapas náuticos mais antigos sob a forma de um
polígono preto. Mas, inexplicavelmente, despareceu sem deixar
vestígios. A intenção era mergulhar na área em busca de materiais que
comprovassem se ela existiu ou não.
Tinham data marcada para o início da viagem, um mês calculado pra se chegar ao
destino e um retorno incógnito.
Já estavam em alto-mar há vinte e oito dias. Alguns quilômetros
apenas os separavam da área que seria explorada. Tudo corria
dentro do previsto. Nenhum contratempo.
Era noite. Uma pintura de céu. As estrelas eram tantas que
competiam espaço. A lua, uma bola de fogo, clareava o
convés. Os cinco homens esparramados bebericavam, jogando conversa fora
até o sono chegar. O dia seguinte seria de muito trabalho.
Repentinamente, o veleiro se viu envolto por denso nevoeiro. Uma
ventania chegou virando e revirando tudo. Objetos soltos misturaram-se
num emaranhado de destroços e foram tragados por ondas gigantes e raivosas que
rugiam feito animal acuado. As velas e as estruturas metálicas dos
mastros retorcidas sumiram como fumaça.
A
tormenta durou poucos minutos...Intermináveis... O suficiente pra
destruir tudo. Desapareceu do mesmo jeito que chegou.
Inacreditável!
O veleiro transformou-se em pedaços de madeira assustados, flutuando em
silêncio. Serviam de apoio aos cinco homens abalados e
feridos. O medo foi se exaurindo. Ficou a
perplexidade.
"Seria
um aviso? Há algo sobrenatural neste pedaço de mar? Fomos alertados
de que o local é intocável?"
Olivier permanecia calado. Mas conhecendo-o como o conhecemos, ele não
desistiria. Essa era apenas a primeira tentativa de outras que
viriam. Tirou um celular à prova d'água, amarrado à
cintura debaixo do colete e comunicou-se com a guarda costeira. Agora era
só ter paciência e esperar.
E, nessa espera, com a cabeça apoiada na madeira, Olivier resmungava
baixinho: "navegar é preciso, viver não é preciso".
As estrelas, todas estavam lá no céu e a lua também. Testemunhas
caladas.
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