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terça-feira, 11 de junho de 2024

UMA ESTRANHA AVENTURA! - Dinah Ribeiro de Amorim

 



UMA ESTRANHA AVENTURA!

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Joãozinho e Cláudia, dois irmãos em idade escolar, estão ansiosos com a chegada das férias. Costumam passar alguns dias no sítio de vovô Alberico, um vovô alegre, cheio de novidades, é quando conhecem muitas histórias e aventuras.

Chega o mês de janeiro e, após os feriados de final de ano, os pais decidem levá-los ao sítio do avô, um lugar afastado, fora da cidade de Ourinhos, onde o velho Alberico, cansado da cidade grande, refugiou-se e acumula livros de histórias e suas tralhas, como ele próprio diz.

As crianças o amam, sendo esse idoso o melhor divertimento, no momento, em suas vidas.

Assim que chegam, após as arrumações costumeiras, já perguntam quais serão as novidades do dia.

Vovô Alberico, com seus olhinhos curiosos e olhar matreiro, senta-se com eles ao redor de uma mesa de tronco, a escrivaninha, e abre um livro de capa dura, cheio de desenhos, mapas e letras.

Curiosos, Joãozinho e Cláudia, já interessados, perguntam o que ele procura.

— Estava esperando vocês chegarem para mostrar um desenho estranho, diferente, que achei por essas bandas, feito há muitos anos, por antigos habitantes dessas terras. Perguntei na cidade se alguém sabia sobre ele, mas ninguém respondeu. Ninguém sabe, ninguém viu.

— Nossa, vovô! O que é? Nas suas terras? Perguntam os meninos.

— Sim, responde vovô, olhem só! Uma enorme caverna, com desenhos feitos de água, tão bem feitos, que parecem esculturas com mãos de homens, atrás da montanha, algumas léguas daqui.

Os meninos observam o desenho e se encantam. “Precisamos conhecer! Quando iremos até lá? ”

Vovô coça um pouco o resto de barba do queixo e responde:

— Talvez amanhã, se acordarem bem cedo. Pode ser.

À noite, as crianças mal dormem, já curiosas e aflitas, ansiosas para conhecerem o tal lugar.

Saem no escuro, com o frio da madrugada e veem os primeiros raios de sol surgirem, aos poucos, durante a caminhada.

Andam por horas e, um pouco cansado, Joãozinho pergunta ao avô se estão no caminho certo.

Vovô Alberico responde que já avista a montanha, agora é subi-la e descerem o lado oposto.

O menino olha a irmã meio admirado, sem falar nada, mas com um olhar que dizia tudo. Será que iriam aguentar?

Cláudia responde logo: “Se vovô aguenta, nós também! ”

Começam a subir a montanha com o Sol já alto, param lá em cima para descansar, tomam a água do cantil, e mais dispostos, iniciam a descida.

Chegam ao sopé da montanha, uma hora depois, quando descansam novamente, para olharem o mapa e andarem na direção certa. Parece uma mistura de caminhos, meio difícil de localizar. Mas, vovô, experiente e hábil, escolhe o provável. Uma terra meio batida, quase sem grama ou plantação, parecendo antiga passagem de humanos ou bichos.

As crianças, mesmo cansadas, se sentem como os antigos exploradores, entusiasmadas em descobrir algo.  Percorrem matos, vegetação alta, vegetação baixa, atravessam riachos, pulam pedras, até chegarem numa região plana, com pequenos arbustos cheios de flores, cobertos por bromélias coloridas.

Param, extasiados e vovô exclama:

— Estamos perto.

Andam um pouco mais e chegam à entrada de uma grande caverna, incrustada numa rocha. Parecia outra montanha, só que não de terra.

Vovô Alberico entra primeiro e chama os netos para o seguirem. Caminham vagarosos, não sabem o que irão encontrar.

Percebem que do teto caem formas delicadas e coloridas, parecem de vidro, e formam desenhos ou pingos formosos, que impedem a passagem. “São as estalactites, explica vovô, uma maravilha da natureza, existente em algumas cavernas de rocha, quando a água se infiltra e desce formando desenhos que se congelam no ar. Quando sobem do chão, chamamos de estalagmites e vão em direção ao teto. ”

— Que coisa mais linda! Exclamam os netos. Já acham que valeu a pena a viagem. Nunca haviam visto isso, tão de perto. O avô era mesmo uma pessoa extraordinária...

Joãozinho caminha mais um pouco e exclama:

— Olha vovô, uma luz vem lá do fundo! Deve ter uma saída.

— Não sei não, filho. Essas cavernas são geralmente fechadas, mas vamos seguir a luz, responde vovô, também curioso.

Percorrem os três a comprida caverna e percebem que a luz vem de uma lâmpada dourada, tampada, semelhante às lâmpadas das histórias de duendes e fadas.

— Que bonita, exclama Cláudia e corre a pegá-la, acariciando-a levemente.

A lâmpada, num repente, dá um salto e cai ao chão, deixando-os assustados.

Abre-se com estrondo, e salta de dentro dela um ser muito estranho, meio esverdeado, rodeado de fumaça, comprido e magro, com barba e bigodes pretos. Suas orelhas finas e altas, assemelham-se aos coelhos enjaulados.

Um grande cone vermelho sobre a cabeça, esconde o cabelo e a testa, como pontudo chapéu. O olhar preguiçoso e sonolento, dirige-se a eles em interrogação.

Vovô Alberico e os netos, diante dessa visão estupenda, caem ao chão, de boca aberta. Não conseguem emitir nenhum som.

A figura estranha, de voz rouca e língua fina, que sai de uma boca estreita, dirige-se a eles e pergunta o que desejam.

O vovô, refazendo-se do susto, acostumado aos mistérios da vida, pergunta quem é ele? Há quanto tempo está preso naquela lâmpada?

Ele responde, com dificuldades para controlar a língua:

— Sou um ser mágico, habitante de outra galáxia, caí nestas terras e seus habitantes, com medo dos meus poderes, prenderam-me dentro dessa lâmpada. Só seria solto quando alguém, com carinho, viesse me soltar. Isso há mais de mil anos. Aconteceu hoje, nas mãos da menina linda que se agradou da lâmpada.

Aos poucos, foram vencendo o medo e Joãozinho, ainda trêmulo, pergunta o seu nome.

— Chamo-me Docimedor, o gênio fantástico, e fui incumbido de distribuir favores a todo aquele que me procurasse. Esse era o meu trabalho, no meu mundo, e seria também aqui, onde caí. Faz tanto tempo que fiquei preso que nem sei se ainda tenho poderes.

E continuou dirigindo-se a eles:

— O que gostariam que eu fizesse?

As crianças se entreolharam, admiradas, e vovô coçou novamente a curta barba, espantado e pensativo.

Cláudia e Joãozinho gostariam de voar, percorrer o sítio do vovô com asas, como se fossem pássaros. Vovô Alberico, após algumas hesitações, queria seu terreno todo plantado, muitos pés de café.

Docimedor matutou, matutou e, após grandes esforços, desculpou-se com eles. Achou que perdeu seus poderes, estava muito velho e o melhor seria dormir de novo, dentro da lâmpada.

Cláudia, compadecida, mesmo achando-o repelente, não deixou que fizesse isso. Abraçou-o e o encaminhou para fora da caverna e ele, ao olhar para o céu, num impulso, foi subindo, subindo, até que sumiu entre as nuvens.

Vovô Alberico, Cláudia e Joãozinho, boquiabertos ainda, sem fala, não acreditaram no que tinham visto. Se contassem para alguém, seriam tidos como loucos.

Cabisbaixos, encaminharam para a volta. Sem comentários. Não conseguiam falar.

De repente, as crianças, ao subirem novamente a montanha, abriram os braços e deram, muito espantadas e maravilhadas, um grande voo até chegarem ao sítio.

Vovô Alberico, rápido em caminhadas, ao contornar o pico da montanha, avista suas terras, ao longe, repletas de pés de café, carregados, prontos para a colheita. Avermelhados, os frutos maduros brilham ao sol.

Anoitece, cansados pelo passeio e pela emoção da aventura, encontram-se os três em casa, ao redor da mesa de tronco, com vovô pegando um lápis e dando-lhes uma folha de papel.

— Escrevam, meus netos. Escrevam e contem tudo o que viram e fizeram. É preciso que todos saibam essa história!

 

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