A Pistoleira
Adelaide Dittmers
Rose saiu revoltada da sala
do xerife. Só porque era mulher não
podia ajudar nas investigações. Atirava
muito melhor do que a maioria dos homens, que conhecia. Não sentia medo de nada. Seu avô e seu pai a prepararam para saber se
defender em quaisquer circunstâncias.
Montou o seu cavalo, decidida a desvendar o que aconteceria naquele dia
e a se vingar daqueles que provocaram aquele terrível tiroteio, em que morreu
tanta gente.
A realização da primeira
feira de gado leiteiro trouxe muitos rancheiros, que queriam exibir seus
animais e vendê-los a bons preços, mas ela soube que apareceram por lá quatro
forasteiros, que, segundo a descrição dos que os tinham visto, eram mal-encarados
e metidos a valentões. Olhavam os
habitantes de soslaio, como se estivessem a avaliá-los um a um. Iam ao salão para jogar, beber e tentar as
mulheres. E se alguém os encarassem,
imediatamente punham a mão no coldre empunhando o revólver.
O que queriam aqueles
homens? O que estavam fazendo naquela
pacata vila? Perguntou-se ela.
Na volta para casa, passou
por ela um amigo de seu pai, que quando a viu, puxou as rédeas de seu cavalo,
chamou-a e contou-lhe que muitos animais
expostos na feira tinham sido roubados e tudo foi tão de repente que ninguém
conseguiu reagir rapidamente e por isso começou aquela enorme troca de
tiros. Dois capangas levaram os animais
e outros dois ficaram um tempo para cobrir os companheiros e depois
desapareceram rapidamente.
Segundo a narrativa dele, a
confusão se alastrou pela cidade como um rastilho de pólvora. Ela ouviu-o atenta. Depois de ele externar
seus sentimentos pela morte de seu pai, perguntou-lhe se precisava de alguma
ajuda. Ela balançou a cabeça, dizendo
que não. Os dois despediram-se e Rose
seguiu seu caminho.
Agora tinha a certeza a que
vieram os forasteiros. Vieram para
roubar o gado e ela iria persegui-los até ao fim do mundo e iria acabar com
eles.
Chegou à casa, apeou-se do
cavalo e entrou com passos firmes. Seu
rosto parecia ter sido esculpido em uma rocha.
Dirigiu-se ao quarto, onde pegou algumas roupas e dinheiro. Depois escolheu
alguns víveres e encheu um cantil com água e colocou tudo em uma pequena bruaca. Enfiou nos coldres dois Colts e à tiracolo
uma tira de couro com munição adicional.
Olhou com tristeza a sua volta, despedindo-se de cada cantinho da casa,
onde nascera, crescera e onde fora muito
feliz.
Montou o seu cavalo e a
galope saiu de sua pequena cidade em busca dos assassinos de seu pai e de tanta
gente do lugar. Tinha que ir rápido para
alcançá-los.
Cavalgou por um bom tempo,
mas eles tinham desaparecido. Anoiteceu
e Rose procurou um lugar perto de um rio para dormir. Ao amanhecer, ela banhou-se nas águas frias
do rio. Sentiu-se disposta e com muita
energia para seguir viagem e enfrentar aqueles capangas. E lá se foi atrás de
seu objetivo.
Um pouco mais adiante,
encontrou um homem, que colhia milho em uma pequena plantação. Rose cumprimentou-o e perguntou-lhe se tinha
visto quatro homens a cavalo, que tocavam várias cabeças de gado. O homem olhou
curiosamente para ela e disse que não os vira, mas antes do amanhecer ouviu de
sua casa, que ficava próxima, o barulho de um tropel de animais, que passaram
velozmente por lá.
O rosto de Rose
acendeu-se. Não deviam estar muito
longe. Algum tempo depois, avistou o que
estava procurando. Bem adiante, à beira
de um regato, sombreado por frondosas árvores,
lá estavam eles, em pé perto dos animais, que bebiam a água corrente. Ela desmontou, puxou-o para o meio da folhagem
espessa e silenciosamente caminhou até chegar bem perto deles.
Os bandidos conversavam e
riam distraídos. A jovem puxou seu
revólver e com tiros certeiros atingiu três dos homens, que caíram mortos na
relva. O quarto, no entanto, virou-se
rapidamente e pode divisá-la atrás de uma moita. Apontou a sua arma e de repente ouviu-se um
tiro vindo de outro lugar, que o atingiu em cheio nas costas e o matou.
Rose, muito surpresa, saiu
de seu esconderijo. Atrás do homem
morto, apareceu um homem alto e forte, que desmontou o cavalo e veio até ela.
— Olá senhorita! Vi que
estava em apuros e ia ser surpreendida por um dos homens. Estava perto, observava os homens e supus que
eram ladrões de gado. Parabéns! Nunca vi
uma mulher atirar tão bem como a senhorita.
A moça estava espantada e
olhou desconfiada para o seu salvador.
— Quem é você?
— Good Joe. E a senhorita, quem é? Por que os perseguia?
Ela não respondeu à
pergunta. Muito admirada, falou:
— Good Joe! O famoso
justiceiro do oeste, que persegue os malfeitores por todo o lado. Não acredito!
Sempre o admirei muito!
Joe deu uma sonora
gargalhada.
— Sim, sou eu e estou
lisonjeado por ser admirado por uma garota tão bonita e corajosa. Agora responda à minha pergunta. Por que
perseguia esses capangas?
—Eles roubaram o gado de uma
feira na minha vila. Provocaram um
grande tiroteio, que matou muita gente inocente e entre elas meu amado
pai. Então, sai da cidade em busca deles
e me prometi que iria fazer justiça por este Oeste afora.
— Isso é muito
perigoso. Além de se ter que lutar com
bandidos, temos que fugir dos patrulheiro, para quem somos foras da lei.
— Não tenho medo de nada. Fui
criada pelo meu avô e meu pai, que me ensinaram a me defender e ter coragem
para enfrentar qualquer obstáculo que estiver à minha frente.
Joe estava pasmo. Nunca vira
uma mulher tão corajosa e decidida.
— Então vou propor-lhe uma
coisa. Você quer vir comigo e juntar
nossas forças e habilidades para vencer esses bandidos?
Rose abriu a boca numa
expressão de espanto e contentamento. O
grande Joe a estava convidando-a para lutar pela justiça com ele.
— Claro que aceito e dando
um passo em direção a ele, apertou-lhe a mão como a selar um acordo entre eles.
Ele sorriu satisfeito. Ia
ter a companhia de uma linda e corajosa mulher.
— Primeiro temos que voltar
à sua vila e devolver esse gado a quem pertencer.
Rose concordou satisfeita e
um sorriso iluminou seu belo rosto.
Montaram em seus cavalos,
juntaram as vacas e as foram tocando pelo caminho de volta.
Foi uma grande festa, quando
os moradores da vila, viram Rose e Joe trazendo o gado que havia sido roubado. Estavam
muito gratos pelo que os dois tinham feito e orgulhosos de Rose, uma moça da
vila, que demonstrara tanta coragem.
Por vários dias permaneceram na cidade para
Rose organizar tudo o que lhe pertencia.
Escolheu um grande amigo de seu pai em quem confiava plenamente para
administrar seus bens, cuja renda seria útil nas suas futuras andanças por
aquela região inóspita e perigosa.
Quando tudo estava acertado,
partiram e, durante muitos anos, vaguearam por todo o Oeste, defendendo os
habitantes dos saqueadores, ladrões de banco e matadores.
Joe e Rose tornaram-se a
dupla de pistoleiros mais famosa daquela região. Muitas vezes, os patrulheiros fingiam que não
os viam porque tinham uma admiração secreta por eles, afinal faziam muito bem o
trabalho que lhes cabia.
Com o tempo, a convivência, os grandes
desafios e perigos, que enfrentavam, foram os unindo cada vez mais e a
confiança e admiração que sentiam um pelo outro se transformou em um grande e
duradouro amor.
Viveram juntos até a
velhice, quando se estabeleceram em um pequeno rancho, levando uma vida
tranquila. Nos fins de tarde,
costumavam sentar-se na grande varanda, que circundava a casa e contavam as
suas aventuras para os inúmeros amigos, que haviam conquistado durante os
muitos anos, que vagaram por aquelas plagas. E enquanto narravam as suas histórias, seus
rostos cansados pareciam rejuvenescer e seus olhos brilhavam de alegria.
Depois de partirem para sua
última e grande viagem, em uma das vilas, foi erguida uma estátua em homenagem
ao casal, imortalizando todos os seus feitos e até hoje são considerados os
grandes heróis de seu tempo.
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