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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Apuros jornalísticos! - Amora


Resultado de imagem para sagada nas filipinas


Apuros jornalísticos!
Amora


Letícia, uma jovem jornalista, recém-formada, encanta-se com o convite para trabalhar na revista “viaje”, com  novidades turísticas. Faria descrições e relatórios sobre diversos lugares, viajando constantemente.

O primeiro lugar indicado despertou-lhe grande curiosidade. Teria que estudar e conhecer uma cidade pequena, Sagrada, situada perto de Manila, nas Filipinas. Descobrir o porquê de atrair tanto turista e o desagrado do povo com essa invasão.

Logo ao chegar, espanta-se com a quantidade de estrangeiros no local, contrastando com a simplicidade e os costumes tradicionais dos habitantes.

Hotéis superlotados, restaurantes cheios, muita movimentação para um lugar pequeno, bonito, mas de natureza comum.

Fazendo reconhecimento do local, perguntando aqui e ali, descobre a causa de tanto interesse. Os costumes tradicionais daquele povo, seus lugares de manifestações festivas e religiosas, a preservação que insistiam no culto aos antepassados. Eram tão diferentes que atraiam curiosos em conhecê-los.

Sentiam-se incomodados com isso, fazendo várias queixas ao governo, como invasão de lugares que consideravam sagrados. Eram vencidos pela renda turística, comércio, organizações de excursões e tudo que trouxesse mais dinheiro ao país.

Letícia, após alguns dias, resolve participar de um passeio que a levaria ao local de maior atração. Como esses filipinos enterravam seus mortos!

Chegaram a um lugar montanhoso, estranho, ao entardecer. Reparou que não enterravam seus mortos, mas colocavam em caixões que ficavam pendurados e perfilados o mais alto possível, suspensos em fios, para que recebessem maior proteção e ficassem mais perto do céu. Era uma maneira de encaminhar seus ancestrais próximos aos deuses que acreditavam. Lugar sagrado e respeitoso, não digno de visitação a turistas com comentários e fotos.

A moça sentiu-se impressionada e não gostou de ter ido, achando-os muito ignorantes e, nada atrativos, pensando em escrever algo que ajudasse a acabar mesmo com o turismo em sagrada, indo contra a tradição deles, não os defendendo.

Escureceu rápido e ela, amedrontada, sentindo um cheiro estranho que emanava do local, afastou-se do grupo, procurando o ônibus. Enveredou por um caminho desconhecido, e, ao invés de se afastar daqueles caixões pendurados, ficou mais próxima, pensando que fossem galhos.  Tão próxima, que um deles despencou, chocando-se com ela. Apavorada, deu um grito forte e desfaleceu de susto.

Atraídos pelo seu grito, correram todos a socorrê-la, procurando sair o mais rápido dali. O guia, rapaz nativo, supersticioso, compreendeu, à sua maneira, que fora um sinal que os mortos deveriam ser respeitados.

Voltando ao hotel, Letícia permaneceu alguns dias na cidade, recuperando-se da batida que sofrera. Os habitantes olhavam-na diferente. Como se tivesse sido uma escolhida dos deuses  para preservar o lugar.

Mudou seu pensamento sobre o texto que pretendia escrever.

Não mais os criticaria, ajudando-os a preservar seus costumes e tradições com respeito, sem preconceitos e invasões. Compreendeu que cada povo tem seu costume, acredita neles, adquirindo uma força interna, não permitindo distorções.

Voltou à revista e escreveu uma crônica sobre sagada contando tudo o que viu, inclusive defendendo o povo propondo um fechamento ao turismo dos lugares proibidos a estranhos. Terminou dando razão aos habitantes locais.


Sagada passou a ser mais respeitada e conhecida depois disso! Sua crônica foi bem aceita, despertando curiosidade pela situação que sofria e não só pela sua tradição!

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