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quinta-feira, 27 de abril de 2017

Minha Culpa, Minha Culpa, Minha Máxima Culpa - Rejane Martins


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Minha Culpa, Minha Culpa, Minha Máxima Culpa
Rejane Martins

O final do ano aproximava-se e Bel tinha mais uma vez a incumbência de avaliar e separar os objetos da casa que não tinham mais utilidade. Começava sempre pelo sótão, pois se o deixasse por último tinha certeza de que esse trabalho se postergaria para o ano seguinte.

Naquela segunda-feira, acordou cedo e cheia de disposição, nem arrumou a cozinha do café da manhã, subiu com sacos de lixo grandes, para iniciar a triagem, verificar as condições dos das peças e decidir quais se converteriam em donativos. Gostava da sensação de doar objetos impregnados de significados para outra família.

Começou pelo que estava no meio do caminho, assim executaria dois trabalhos concomitantemente, a triagem e a abertura de picadas naquele espaço abafado e sem muita iluminação.

Percebeu que no meio dos tapetes, que outrora enfeitavam a sala, havia algo mal escondido. Para recuperá-lo, pisou sobre caixas depositadas no chão e se segurou em apoios um pouco mais elevado. Quando conseguiu identificar a peça, seu coração congelou. Aquele diário que ela não destruiu no passado, estava alí assombrando-a novamente.      
Quem será que o encontrou? Será que o leu? Como saber se alguém tem o conhecimento daqueles relatos? E se esta pessoa não se identificar, Bel terá esta espada apontada para ela até quando?

Depois de todos esses anos Bel finalmente seria condenada pelos seus atos? Como explicar agora, que foi o resultado de uma atitude impensada daquela adolescente irresponsável? Foi um momento de fraqueza que na hora pareceu até uma boa ideia.

Resoluta, Bel desceu as escadas correndo e se salvando de vários tropeços. Chegou ao quintal tirou todas as tralhas da churrasqueira, despejou um litro inteiro de álcool sobre o livro e ateou fogo. Enquanto se certificava da destruição da prova que a incriminava, rezava para que não fosse tarde demais.  

À noite, durante o jantar Ricardo seu marido, comentou que no final de semana subira ao sótão para pegar uma ferramenta e encontrou o diário da Márcia, uma antiga amiga do casal. Ele deixou à vista para que Bel o devolvesse a sua real proprietária, apesar de não terem mais contato há tantos anos.


Bel confessou que já havia destruído o objeto. Sentiu muita envergonha de si mesma, não por ter destruído, mas por tê-lo roubado no passado, necessitava conhecer os pormenores do então namorado de Márcia e assim conquistá-lo. Afinal pelo Ricardo, valia a pena cometer o crime.

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