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quarta-feira, 13 de maio de 2015

A SAÍDA! - Dinah Ribeiro de Amorim


A SAÍDA!
Dinah Ribeiro de Amorim

Carlinhos, aos dez anos, aborrece-se muito com seu irmão mais novo, Luizinho, que destrói tudo o que é seu, correndo para não apanhar.

  Queixa-se aos pais, aos mais velhos, ninguém consegue dar jeito em Luizinho. Era um rebelde mesmo!

  Tem, então, uma ideia: prender sua atenção através de livros de histórias.

  O menino mal educado, começa a se interessar, sentando-se no chão,  ao lado do irmão, para ouvi-lo atentamente.

  Carlinhos escolhe as histórias de fadas, pois nota que são as que o irmão gosta mais. Inicia:  “A FADA LANA E O OGRO MAU!”

  “Era uma vez uma fada diferente das outras, muito alta, de membros longos, para alcançar e dominar toda a floresta, protegendo os seres que nela viviam. Seu nome: Lana. Não possuía asas pois conseguia chegar aonde queria com apenas alguns passos. Mesmo assim, tão grande, era bonita e boa, amada por todos.

  Certo dia surge um gigante, um ogro mau. Queria desafiá-la para uma luta, vencê-la com sua força e comer os bichos menores da floresta, prendendo os grandes para reprodução”.

  Luizinho, nessa parte da história, arregala os olhos, curioso e ansioso,  mas Carlinhos interrompe a leitura, mandando-o dormir. O menino, decepcionado, reclama, mas obedece. Até obediente  estava ficando.

  No dia seguinte, Carlinhos recomeça a leitura, fazendo-o primeiro arrumar seu quarto.

  Luizinho logo  senta aos pés do irmão e continua ouvindo:

“Os pés do Ogro eram enormes, estremecendo o chão quando andava, semelhante a  terremotos. Os bichinhos, coitados, escondiam-se em seus buracos ou tocas, esperando-o passar. Tinha o corpo peludo, braços compridos, mãos cheias de garras ao invés de dedos, rosto largo e feio, com orelhas semelhantes às folhas das palmeiras, que balançavam e ouviam qualquer tipo de som. Atentas a tudo. Seu nariz, comprido demais e achatado na ponta, sentia e pressentia todos os cheiros da floresta, descobrindo facilmente aonde se escondia cada animal. Instalou-se no local e ia comendo aos poucos cada bichinho que encontrava. Sua fome era insaciável.

  Fada Lana, ao caminhar com braços e pernas estendidos e elásticos, chega ao encontro dele, tentando puxá-lo pelo pescoço, fazendo enorme força. O ogro dá uma estrondosa gargalhada e arremessa-a longe. Pobre fada, sofrendo ao ver seu reino atingido e não sabendo como salvá-lo. Tenta amarrá-lo com cordas de cipó das árvores, mas o forte ogro arrebenta logo tudo com suas garras.

  Pensativa e triste recolhe-se ao seu canto predileto, uma imensa caverna dentro da montanha, meditando por longo tempo. Não estavam acostumados à violência e à maldade, tendo necessidade de descobrir uma estratégia. Ouvia, ao longe, o barulho  das atividades cruéis do ogro.

  Após muito pensar, resolve tirar da própria natureza a salvação. Esse maldito ogro, destruidor e carnívoro, tinha um ponto fraco quando comia demais: caia em sono profundo. Reúne-se, então com as chefes das abelhas e formigas, combinando derramar mel no corpo dele, enquanto dormia, formando esquadrão de insetos, abelhas e formigas que, enfileirados, atacariam o corpo do gigante dorminhoco, enchendo-o de picadas e mordidas, fazendo-o acordar e correr dali. Torcem todos para dar certo.

  O ogro, após fartar-se de várias aves da floresta, dorme profundamente, não percebendo a aproximação dos pequenos insetos, que espalham mel sobre todo aquele corpo horrendo.  Em seguida, o atacam ferozmente, em numerosos grupos, tornando-o escuro e mais feio, irreconhecível.

  Essa estratégia dá certo, pois o ogro acorda com gritos e movimentos terríveis, coçando-se e balançando-se, querendo expulsar seus atacantes. Não consegue e, desesperado, corre e atira-se num rio ali perto, quando enormes jacarés o cercam e o destroem, com  enormes dentadas.

  Fada Lana, feliz com o final desse drama, é cercada e aplaudida pelos seus amiguinhos da  floresta encantada, que continuou em paz! Abraçava todos ao mesmo tempo, com seus maravilhosos braços elásticos”.

  Carlinhos fecha o livro e observa seu irmão. Este, com rosto admirado e sonolento, pergunta quando lerá outra história!

Amanhã, talvez, responde ele, após minhas tarefas de escola.


  Luizinho diz “boa noite”, passando antes pela cozinha e dando uma lambida no pote de mel que estava no armário.

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